Sim, tem uma rede. E eu nunca tinha parado para pensar: há
algo de exótico nisso?
Mas pensando bem, todas as casas de hoje são iguais. Vidro,
aço, móveis brancos... tudo muito branco. E a minha... a minha não: cor,
madeira, tecidos, texturas...
Todas as casas de hoje são iguais. Assim como a forma de
vestir, as pessoas no Brasil seguem moda quando montam uma casa. Já repararam a
quantidade de lupas, pincéis e livros de arte decorando as mesas de centro das
casas por onde grandes decoradores passaram? Livros que nunca foram e nem serão
lidos. Lupas... seriam para enxergar os livros? E os pincéis... para tirar a
poeira acumulada neles, talvez...
Ao invés destes objetos, a minha casa tem memórias. Tudo que
lá está e que faz parte da ‘decoração’ tem um porquê - uma função ou uma
história.
A minha sala tem cadeiras, sofá, almofadas de chão e rede.
Uma só rede. E é justamente nela que os visitantes escolhem sentar e se
aconchegar quando em visita.
A minha casa tem uma rede na sala. Quem aqui chega sente a
intimidade da vida, cheiro de café e de planta. A imperfeição da dinâmica do
cotidiano. Paredes brancas, tetos simples, janela aberta. Cor. Muita cor. A
minha casa em nada se parece a um cenário, como as casas de hoje... a minha
casa é meu refúgio.