domingo, 17 de novembro de 2013

Uma rede na sala

“A casa dela tem uma rede na sala!”. Foi assim que fui apresentada a uma pessoa, por uma amiga. “Muito prazer, é isso mesmo. Minha casa tem uma rede na sala.”
 
Sim, tem uma rede. E eu nunca tinha parado para pensar: há algo de exótico nisso?
Mas pensando bem, todas as casas de hoje são iguais. Vidro, aço, móveis brancos... tudo muito branco. E a minha... a minha não: cor, madeira, tecidos, texturas...
 
Todas as casas de hoje são iguais. Assim como a forma de vestir, as pessoas no Brasil seguem moda quando montam uma casa. Já repararam a quantidade de lupas, pincéis e livros de arte decorando as mesas de centro das casas por onde grandes decoradores passaram? Livros que nunca foram e nem serão lidos. Lupas... seriam para enxergar os livros? E os pincéis... para tirar a poeira acumulada neles, talvez...
 
Ao invés destes objetos, a minha casa tem memórias. Tudo que lá está e que faz parte da ‘decoração’ tem um porquê - uma função ou uma história.
 
A minha sala tem cadeiras, sofá, almofadas de chão e rede. Uma só rede. E é justamente nela que os visitantes escolhem sentar e se aconchegar quando em visita.
 
A minha casa tem uma rede na sala. Quem aqui chega sente a intimidade da vida, cheiro de café e de planta. A imperfeição da dinâmica do cotidiano. Paredes brancas, tetos simples, janela aberta. Cor. Muita cor. A minha casa em nada se parece a um cenário, como as casas de hoje... a minha casa é meu refúgio.